quarta-feira, 13 de setembro de 2017





O ATOR

(QUINTA PARTE – INTERLÚDIO)

A exibição de O Defunto Virgem foi repentinamente interrompida por três tiros de revólver disparados no peito do desditoso Benito Rubaloca, disparados por sua mulher Ignes Rubaloca num acesso de ciúme, diante de meia dúzia de testemunhas, conforme constou nas manchetes dos jornais do dia seguinte e no boletim de ocorrência lavrado na delegacia horas depois do crime.
Dorotéa Vaughan trancou-se no banheiro e só foi de lá retirada quatro horas depois pelo servente do teatro, muito lívida e balbuciante, após a polícia ter levado madame Rubaloca – que depois do terceiro tiro não se preocupou em se livrar do flagrante e prostrou-se sentada numa cadeira esperando pelo seu inexorável destino.
Passado o susto, dias depois Dorotéa aproveitou para tirar vantagem do desditoso episódio e foi se expor em um programa da televisão marrom, para depois contracenar um filme B onde expôs a sua natureza nua e crua para faturar o equivalente a cinco anos de apresentação no Teatro Aliança. No filme, sua beleza estática e sua falta de talento não chegaram a ser problema.
Timóteo saiu de circulação, e a última vez que foi visto vendia frutas na feira, também sem exibir o menor talento.
Rubaloca, o pivô da questão, teve enfim seu nome eternizado no Diário de Notícias como sempre fora o seu desejo, muito embora na página policial.
Quanto a mim, desde então sou um mais um personagem da vida real à procura de uma persona no palco, saudoso do camarim que guarda aquele silêncio que antecede o espetáculo e daquele calafrio que antecipa a entrada triunfante no palco.
E, na falta de um Tennessee Williams, sigo à espera de um Eraldo Montalvão para escrever as minhas falas.
    
2013


            

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