sábado, 29 de dezembro de 2018






A MINHA RUA
(Augusto Pellegrini)

Minha rua tem belezas que as outras ruas não têm
As pessoas que aqui moram se conhecem muito bem
O calçamento é de pedra, com seus vãos cheios de grama
Pois ela é vedada aos carros, preservando o panorama

Na rua, as crianças brincam de brincadeiras antigas
E os idosos se distraem com conversas sempre amigas
Lá vêm os entregadores de jornal, também os carteiros
E nas tardes de verão aparece o sorveteiro

A paz sempre está presente, tudo no mais fino trato
Vizinhos se cumprimentam e os cães brincam com os gatos
As borboletas coriscam, vovó chega do mercado
E passa pelo jardim coberto de alcatifado

Parece que nesta rua sempre brilha o sol, alegre
O céu está sempre azul, tisnado de nuvens breves
Arrulham os passarinhos e a brisa vem do leste
E o homem do realejo traz a sorte em seus bilhetes

Foi uma rua companheira, com seu ar franco e risonho
E retrata a minha infância – hoje não passa de um sonho
Os mais velhos já se foram, as casas foram vendidas
E um comércio muito intenso fez da rua uma avenida

O calçamento é moderno, coberto de macadame
O que era bom já passou, hoje é apenas triste e infame
Passarinhos, borboletas, vizinhos em paz com os outros
É uma imagem superada, agora é só desconforto

A rua tinha belezas que nenhuma outra tinha
Tinha o velho bilheteiro, tinha flores e andorinhas
Tinha crianças brincando, tinha a tia na janela
Hoje só nos traz lembrança de um passado em torno dela

A saudade dessa rua mora na minha consciência
Eu dela jamais me afasto, quer por amor ou prudência
Bons tempos foram aqueles, quando a vida era inocência
Bem diferente de hoje, com mau humor e inclemência

Dezembro 2018


terça-feira, 25 de dezembro de 2018






NOVOCABULÁRIO INGLÊS
(Copyright MacMillan)

(ver tradução após o texto)

IRRITAINMENT

We all know those TV programmes which we can’t quite resist tuning into each week, even if we know they are annoying. What about last night’s reality TV show? It was rubbish, but we were all talking about it at lunch today. These compulsive programmes are irritating but somehow they entertain us – that’s IRRITAINMENT.   

“IRRITAINMENT: entertainment and media spectacles that are annoying but you find yourself unable to stop watching them”.  
(Marshall Democrat News. 2nd June 2005)

TRADUÇÃO

Todos nós conhecemos esses programas de TV que nós não conseguimos deixar de assistir toda semana mesmo sabendo que eles são muito chatos, como por exemplo o “reality show” da noite passada. Foi uma porcaria, mas as pessoas estavam falando sobre ele hoje na hora do almoço. Estes programas compulsivos são irritantes, mas de alguma forma eles não deixam se ser um entretenimento (entertainment). Isto é “irritainment”.
  
“IRRITAINMENT: Espetáculos de entretenimento que são irritantes, mas que você não consegue deixar de ver”.

domingo, 23 de dezembro de 2018





UMA AVENTURA DE NATAL
(excerto)

Nem bem tinha fechado os olhos quando o relógio o despertou.
Dez e meia da noite.
O sono lhe fora pesado e curto.
Os dias de tensão, as noites de vigília, a semana inteira ordenando as ideias, cigarro após cigarro pensando na noite de Natal, na importância da noite de Natal, no presente de Papai Noel.
Pensou em ficar ainda mais um pouco deitado, dormitando, bem agora que o corpo havia encontrado a posição ideal, nenhum mosquito pra incomodar, aquela preguiça, aquela lassidão.
Mas não podia, queria mas não podia, o dever gritava nos seus ouvidos – hoje é noite de Papai Noel!
Ergueu-se como uma mola.
Se continuasse deitado iria dormir de novo, iria perder a hora e então, adeus sonho, adeus Papai Noel.
No canto, amarfanhada, a roupa vermelha e a ridícula barba branca.
Dentro da cabeça a expectativa crescendo, tremendo, fremindo, nesta noite de pura emoção. Outro cigarro aceso.
Lá fora, a grande noite, o céu estrelado, o vento brando, alguns foguetes espocando aqui e ali, prenúncio de uma grande noite de Natal.
Aqui, a túnica vermelha com alguns fios esgarçados pelo uso, os apliques brancos, a bota preta precisando de uma demão de graxa. No canto, dependurada num prego na parede, a barba branca continuava sorrindo aquele sorriso sem boca, aquele sorriso de Papai Noel.
Aos quarenta e dois anos, mais do que nunca, ele acreditava em Papai Noel. E nunca Papai Noel lhe fora tão importante, nunca marcara sua vida com tanta tinta como nesta noite de Natal, como uma pintura impressionista.
Olhou as horas e analisou o conteúdo do saco. Tudo certo.
Lá fora um cachorro late, e surge um som ruidoso de canções de Natal com harpa paraguaia, meio fora de moda, gosto duvidoso.
Onze e trinta e cinco. Está na hora de sair.
Puxa o saco não tão pesado para os ombros, levanta os olhos para o teto como se mirasse a abóboda da Capela Sistina, pedindo aos céus que esta noite fosse, de fato, a noite mais feliz da sua existência.
Aproxima-se da porta.
Então, o vendaval.
A porta se abre para dentro com um estrondo, o mundo desabando sobre a sua cabeça, as estrelas da Sistina dançando ao seu redor, homens gritando, armas, mãos para o alto, “quieto, se não quiser morrer!”
Papai Noel com as mãos na parede, somente agora ele notou que tinha se esquecido de calçar as luvas, os olhos esbugalhados, o suor escorrendo por dentro da barba, o rim doendo pela pancada da coronha bem manejada, no rosto o ríctus doloroso.
“Tá preso, assaltante safado!”
O plano havia sido descoberto.
No chão, o saco revirado mostra algumas ferramentas, algumas folhas de jornais velhos, uma pistola trinta e oito, dois rolos de esparadrapo, uma bomba caseira de má fabricação e seu amuleto da sorte, uma ferradura de verdade com uma fita vermelha amarrada num dos furos.
O cachorro ainda late, mas agora se ouve o Messias de Haendel.
Batem as badaladas da meia-noite na noite de Natal.
Na esquina, próxima ao edifício de um banco imponente, todo revestido de mármore preto, um rapaz está encostado ao poste. Ajeita o boné para frente e enfia a mão no bolso, nervosamente. Olha para os lados atentamente, como um gato.
A uns cem metros, ao lado de uma placa de estacionamento proibido, junto ao meio-fio pintado de amarelo, dentro de um carro escuro, dois homens se questionam – “não está na hora? – e fumam impacientes, a fumaça toldando o espelho retrovisor.
Em frente ao banco passa vagarosamente um outro rapaz, disfarçando alguma coisa, olhando para os lados, ansioso. Consulta o relógio sob a luz do poste, os sinos batendo e os ponteiros se encontrando.
Todos estão esperando por Papai Noel.
Ao longe, os sinos continuam repicando, se confundindo com o som da sirene que se aproxima.





sábado, 22 de dezembro de 2018






SINFONIA NOTURNA
(Augusto Pellegrini)

Ao acender o abajur na mesa de cabeceira
Sentiu na alma uma imensa alegria
A luz com seu fulgor se espalhou pelas beiras
E pôs fim às sombras, como se fosse dia

Observou na mesa os livros que ama ler
Que falam para a sua alma e que lhe dão prazer
Os personagens, todos juntos, lhe fazem companhia
Na solidão da madrugada que ora se inicia

Sentiu o ar da noite entrar pela janela aberta
E ouviu o canto musical e único do vento
Com mil imagens feitas no seu pensamento
Até cerrar os olhos na noturna sesta

À noite, a natureza impera nua, pura e solta
Insetos de asas vão em vêm, fazem a festa
E o gato, enrodilhado no lençol da cama
Faz companhia ao dono, como um cão de escolta

Então, luz apagada, começam a surgir os sonhos
E aí o inverossímil cresce por inteiro
O gato já mudou de lado, e o travesseiro
Guarda o calor do rosto suado e dos seus poros

Amanhece, a luminosidade atravessa a janela
A sinfonia noturna toda se modificou
O gato não mais dorme, tristonho olha a tigela
E aguarda que o dono ponha leite dentro dela

Dezembro 2018

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018








NOVOCABULÁRIO INGLÊS
(Copyright MacMillan)

(ver tradução após o texto)

INFOMANIA

If you regularly send a quick text message while talking to someone, or frequently check your e-mails during your working day, you could be suffering from a new and widespread addiction, potentially more harmful to your concentration than anything else! Sufferers of INFOMANIA are distracted from daily tasks because they have the constant urge to read and reply to electronic messages.   

“The abuse of “always-on” technology has led to a nationwide state of “INFOMANIA” where UK workers are literally addicted to checking e-mail and text messages during meetings, in the evening and weekends”.
(999 Today, 22nd April 2005)

TRADUÇÃO

Se você tem a mania de mandar mensagens de texto enquanto fala com alguém ou passa o tempo todo checando seus e-mails durante a sua jornada de trabalho, você pode estar sofrendo de um novo vício que se espalha atualmente por todo o mundo, potencialmente mais prejudicial para a sua concentração do que qualquer outra coisa.  Aqueles que sofrem de INFOMANIA não mantêm a concentração nas tarefas do dia-a-dia porque têm a necessidade constante de ler e responder suas mensagens eletrônicas.
  
“O abuso de estar constantemente ligado na tecnologia tem conduzido a um estado de “infomania” em nível nacional, pois os trabalhadores do Reino Unido estão literalmente viciados em checar seus e-mails e mensagens de texto durante reuniões, à noite e em fins de semana”.


terça-feira, 18 de dezembro de 2018






SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 08/12/2017
RÁDIO UNIVERSIDADE FM 106,9 Mhz
São Luís-MA


THE BOSSA TRÊS

A descoberta da harmonia jazzista como parte da música brasileira foi uma revolução mais duradoura e de maior abrangência do que a bossa nova em si. Músicos que tocavam Bill Evans, Dave Brubeck, Thelonious Monk e Oscar Peterson no recôndito dos seus apartamentos da Zona Sul carioca puderam enfim levar a sua musicalidade temperada de jazz para os palcos da cidade e de outros rincões. Entre os grupos que se formaram - Zimbo Trio, Tamba Trio, Jongo Trio, Manfredo Fest Trio, Pedrinho Mattar Trio, Bossa Jazz Trio, Sambalanço Trio - todos liderados por estupendos pianistas como Amilton Godói, Amilson Godói, Luiz Eça, Cesar Camargo Mariano, Cido Bianchi, Pedrinho Mattar, Manfredo Fest, Tenório Jr. e Sergio Mendes, entre outros, e contando com coadjuvantes do nível de Luiz Chaves, Sabá e Helcio Milito, por exemplo, deram início à moderna música instrumental brasileira, que originou e tem originado diversos grupos de elite. O nosso destaque de hoje vai para o The Bossa Três, formado pelo pianista Luiz Carlos Vinhas, pelo contrabaixista Sebastião Neto e pelo baterista Edison Machado, todos músicos fora de série  que apresentam um setlist selecionado - "Blues Walk" (Clifford Brown), "Céu e Mar" (Johnny Alf), "Influência do Jazz" (Carlos Lyra), "Menina Feia" (Oscar Castro Neves) e "Zelão" (Sergio Ricardo) entre outras.   

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini

                                                                                                                                     





DESVENTURAS DE UM FIM DE TARDE
(Excerto)

A maré baixa colocava o mar lá na lonjura, e uma imensa faixa de areia úmida separava a água esverdeada – que no momento se apresentava tranquila, parecendo uma imensa lagoa – dos bares rústicos de madeira construídos sobre a duna.
          O céu totalmente azul dispensava qualquer nesga de nuvem, e o sol assoprava o seu bafo quente sobre a pictórica paisagem tropical.
          Espalhados pela areia podiam ser vistos pequenos restos de coisas que o mar havia vomitado antes de começar o seu recuo, num fenômeno que se repetia a cada dia por incontáveis séculos.
          A orla estava quase deserta – afinal era uma terça-feira, três horas da tarde – e poucos boas-vidas tinham tempo para se aventurar a uma caminhada na praia ou a um instante de lazer debaixo daquela quase brisa que soprava para reduzir o calor. Algumas crianças aproveitavam a calmaria da beira da praia para brincar, acompanhadas por senhoras maduras com cara de avó. Um ou outro cachorro exercitava sua corrida pouco olímpica à cata de gravetos atirados pelos guris. Um velho senhor fazia meias flexões até onde sua coluna dorsal podia aguentar.
          O bar da praia também estaria vazio, não fossem as presenças de um casal que trocava juras de amor numa mesa distante e de dois inseparáveis amigos, que tendo chegado àquele paraíso ainda pela manhã enfileiravam sobre e sob a mesa uma quantidade razoável de garrafas de cervejas.
           Zé Maria era um bancário aposentado que há tempos convencera a sua mulher que, por determinação médica, necessitava de caminhadas na praia pelo menos duas vezes por semana – e o fazia religiosamente todas as terças e quintas-feiras, sob a supervisão do próprio médico, chamado Parmênio, também aposentado.
            Enquanto estava sóbrio, Zé Maria costumava se dirigir ao antigo facultativo pelo nome de “doutor Parmênio”, em homenagem à sua vida hipocrática pregressa mas com o passar dos goles ia perdendo a reverência.        
Parmênio costumava dizer que a melhor cura para o estresse, esta inconveniência moderna que pouco a pouco vai minando a nossa capacidade vital, era espairecer e conversar com amigos, de preferência fora do ambiente doméstico, quebrando a tensão com uma cerveja gelada e deixando os problemas do lado de fora do bar.
A cumplicidade entre os dois era, portanto, filosófica e fortemente sedimentada em malte e lúpulo, e uma amizade fermentada dessa forma só podia ficar fortalecida.
                                             -0-0-0-
O zênite do dia havia ficado para trás já havia cinco horas e o sol estava finalizando o seu cruzeiro diário quando Parmênio e Zé Maria decidiram que já era hora de voltar para as suas casas, onde os esperava a peroração habitual das esposas.
Afinal, eles já haviam discutido tudo o que o conhecimento e a embriaguez lhes permitiram – fatos atuais sobre política e futebol, fatos de sempre sobre problemas familiares e fatos muito antigos e difusos, como conquistas amorosas nos áureos tempos em que a testosterona estava em alta – e haviam inclusive resolvido boa parte dos problemas do mundo.
O mar recomeçava a subir novamente em direção às pernas do bar, e o céu azul já adquirira uma cor de chumbo, exibindo lá no alto a mentirosa estrela D’Alva.



sábado, 15 de dezembro de 2018






HARLEM NEGROES

(Augusto Pellegrini)

 A história do negro nos Estados Unidos começou efetivamente em 1609 com a chegada dos primeiros navios trazendo escravos, mas a sua participação na sociedade se deu apenas duzentos anos depois. Esta intensificação aconteceu realmente a partir do final do século XIX, mas veio de forma tão rápida e eficiente que em menos de trinta anos fez florescer no país, de uma maneira inesperada e fascinante, uma forte cultura afro-americana.
Este crescimento, principalmente aquele referente ao período compreendido entre o início da década de 1920 até meados dos anos 1930 teve como principal referência a região de Nova York, especificamente o bairro do Harlem, e ficou conhecido como “New Black Movement” (“Novo Movimento Negro”) nome dado em homenagem a uma antologia escrita por Alain Le Roy Locke, considerado o Pai do “Harlem Renaissance” (“Renascimento do Harlem”), alusão feita em comparação ao Renascimento europeu, que nos séculos XV e XVI elevou as artes – como a pintura, a música e a literatura – a patamares antes nunca vistos.
Locke escreveu “The pulse of the Negro world has begun to beat in Harlem” (“A pulsação do mundo negro começou a bater no Harlem”), e a frase serviu de lema para o movimento.
O bairro era chamado de “Negro Metropolis” – a Metrópole do Negro – pelos intelectuais e noctívagos de todos os tipos que para lá convergiam, entre os quais artistas, professores, pensadores, bêbados e boêmios de todos os padrões, todos integrados a seu modo na causa negra.
Durante o período deste Renascimento afro, os negros que habitavam o bairro do Harlem pareciam viver em um território totalmente à parte, imunes aos diversos tipos de preconceito, apesar da política racista da época que imperava em outros rincões dos Estados Unidos. Lá no Harlem o negro se sentia seguro e praticamente inatingível, compartilhando com seus pares um clima de igualdade e fraternidade.
O que ocorria, na verdade, era uma inversão de valores.
No Harlem havia bares, cabarés e casas de diversão onde somente os negros frequentavam, não porque fosse proibida a entrada de brancos, mas porque os brancos simplesmente não se sentiam à vontade dentro de um ambiente tão especialmente fabricado para os negros, que usavam um linguajar característico e curtiam a sua música e as suas idiossincrasias.
O Harlem foi a casa de muitos negros importantes também em nichos de arte que não tinham relação com o jazz ou com a música. Vale a pena citar alguns desses intelectuais:
James Mercer Langston Hughes (poeta, dramaturgo, roteirista e ativista político), foi um dos primeiros inovadores da então nova forma literária chamada poesia-jazz. “The calm, cold face of the river asked me for a kiss” (“A face fria e calma do rio me pediu um beijo”).
Zora Neale Hurston (novelista, contista, folclorista e antropóloga), tem uma vasta obra que ainda faz muito sucesso entre os leitores, em plena segunda década do século XXI. Those that don’t got it, can’t show it. Those that got it, can’t hide it” (“Aqueles que não tiveram não podem mostrar. Aqueles que tiveram, não conseguem esconder”).
Jessie Redmon Fauset (editora, poeta, ensaísta, romancista e educadora), costumava explorar nos seus livros o tema do negro na classe média. To be a colored man in America... and enjoy it, you must be greatly daring, greatly stolid, greatly humorous and greatly sensitive. And at all times a philosopher...” (“Para ser um negro na América... e gostar, você deve ser muito ousado, completamente indiferente, muito bem-humorado e bastante sensível. E permanentemente um filósofo”).
 Gwendolyn Bennetta Bennett (professora, poeta, jornalista e cronista cultural), além de dedicada à educação era também uma talentosa escritora.  Silence is a sounding thing to one who listens hungrily” (“O silêncio é uma coisa muito sonora para aquele que tem sede de ouvir”).
 Marita Odette Bonner (ensaísta, escritora e roteirista) foi sócia fundadora de uma irmandade de mulheres negras. She did not talk to people as if they were strange hard shells she had to crack open to get inside. She talked as if she were already in the shell. In their very shell” (“Ela não conversava com as pessoas como se elas fossem duras e estranhas couraças que ela teria que romper para conseguir entrar. Ela falava como se já estivesse dentro da couraça. Bem dentro”).
 James Weldon Johnson (escritor, advogado, educador, compositor, diplomata e ativista dos direitos civis) foi líder da Associação Nacional do Desenvolvimento dos Negros e cônsul na Venezuela e Nicarágua durante o mandato do presidente Theodore Roosevelt. “Young man, young man, your arm’s too short to box with God” (“Meu jovem, meu jovem, seu braço é muito curto para tentar atingir Deus”).
Sterling Allen Brown (professor, folclorista, poeta e crítico literário), pelo seu envolvimento com uma literatura negra bastante voltada ao blues e ao jazz, é considerado parte do movimento Harlem Renaissance, apesar de residir em outra cidade. One thing they cannot prohibit – the strong men comin’ on, the strong men gettin’ stronger… strong man… stronger…” (“A única coisa que eles não conseguem proibir – os homens fortes chegando, os homens fortes se agrupando... homens fortes... mais fortes”).
Wallace Thurman (poeta, ensaísta, jornalista e editor), apesar de ter falecido muito jovem, com apenas 32 anos, contribuiu decisivamente para a causa negra, principalmente por causa dos seus escritos incisivos. “We are mere journeymen, planting seeds for someone else to harvest” (“Nós somos simples artifices plantando sementes para outros fazerem a colheita”).
Dorothy Irene Height (educadora e ativista de direitos humanos) foi durante quarenta anos presidente do Conselho Nacional de Mulheres Negras. “We’ve got to work to save our children and do it with full respect for the fact that if we do not, no one else is going to do it ” (“Nós temos que trabalhar para proteger as nossas crianças e fazê-lo muito bem feito porque se não o fizermos ninguém o fará por nós”).
 William Edward Burghardt Du Bois (sociólogo, historiador, ativista, escritor e editor) foi o primeiro afro-americano a obter doutorado nas Universidades de Berlim e Harvard e foi um dos co-fundadores da Associação Nacional do Desenvolvimento dos Negros. Burghardt Du Bois tem, assim como Sterling Brown, uma participação honorária no Harlem Renaissance. “Now is the acceptance time, not tomorrow, not some more convenient season” (“A hora da aceitação é agora, não amanhã nem em outro momento que seja conveniente”).
Estes eram o pensamento e a atitude da elite negra Americana que ficava geograficamente e culturalmente muito acima dos seus semelhantes que habitavam o sul e o centro-oeste do país no início do século 20.
Os que foram ungidos pelas bênçãos do Harlem brindaram a humanidade com obras de alta intelectualidade e prepararam o caminho para que outros negros viessem mais tarde a exercer funções de destaque na política, na administração pública e na sociedade. Os que habitavam o mundo dos sonhos embalados pela cultura do jazz e do blues contagiaram toda uma nação com a sua arte musical, provocando um movimento que ajudou os Estados Unidos a influenciar o mundo nos anos que se seguiram.




quarta-feira, 12 de dezembro de 2018






ATENTOS, POIS!
(Augusto Pellegrini)

É engraçado como as coisas mudam
E como as coisas mudam as pessoas
Conheço gente que foi respeitável
Mas que depois de longa vida estável
Se transformou num reles coisa-à-toa

É interessante como a gente aguenta
Mas à medida que a paciência esgota
Notamos o quanto enganados fomos
E estes enganos viram desenganos
Pois nos sentimos míseros idiotas

É bom que a gente olhe com uma lente
Aqueles que se fazem de cordeiros
Pois quando surge a hora da vantagem
Eles, do alto da sua gatunagem
Nos fazem de idiotas por inteiro

É importante ficar sempre atento
Porque o inimigo age na surdina
Propõe maciamente os seus projetos
Se faz de amigo, mas é só um esperto
Com a intenção de ver nossa ruína

Por isso, cidadãos, conclamo a todos
Muita atenção para o que vai em sua volta
Passando um pente fino naqueles sujeitos
Que se fazem de seres mais do que perfeitos
E se precavendo assim de uma derrota

Te afasta, belzebu, com esse sorriso falso
Fica longe de mim, que eu te esconjuro
E leva o teu veneno e o hálito da morte
Deixe-me procurar por uma luz bem forte
Pra me livrar de vez do teu escuro

Dezembro 2018


terça-feira, 11 de dezembro de 2018






NOVOCABULÁRIO INGLÊS
(Copyright MacMillan)

(ver tradução após o texto)

EARWORM

We all know that feeling of hearing a tune on the radio and then being bothered by it for the rest of the day. Now we’ve finally got a name for “this song which keeps going round and round in my head” This is the EARWORM, invading our consciousness for several hours until it finally gets removed, often by another EARWORM.  

“The company shifted its focus from background music to foreground; the music suddenly wanted to be noticed, to implant “EARWORMS” – musical phrases you can’t get out of your head – into the disc changer of your brain”.
(Washington Post, 19th June 2005)

TRADUÇÃO

Todos nós conhecemos aquela sensação de ouvir uma música no rádio e ficar com ela na cabeça o resto do dia. Finalmente nós encontramos um nome para essa música que cisma em ficar o tempo todo na nossa cabeça. O nome é BICHINHO DE OUVIDO, que invade a nossa consciência por diversas horas durante o dia até que consegue ser removido, geralmente por outro BICHINHO DE OUVIDO.  
  
“A companhia mudou o seu foco de “música de fundo” para “música de frente”; de repente, a música quer ser notada através da implantação de “bichinhos de ouvido” – frases musicais que você não consegue tirar da cabeça – no toca-discos do seu cérebro”.



sábado, 8 de dezembro de 2018






O ANJO TORTO
(Excerto)

“Afinal, caro Pedrosa, como você define alegoria?”
A pergunta foi feita por Hipólito Boaventura antes de tentar o corajoso primeiro gole do café terrivelmente quente que lhe fora servido pela atenciosa garçonete a propósito de um trabalho supostamente literário produzido pelo sócio e amigo.
A dupla costumava espairecer todos os dias lá pelas quatro da tarde durante uns vinte minutos que se concediam de folga para misturar conversa fiada com um café “espresso” tomado è moda antiga sentados a uma mesa redonda na calçada do Café Toledo, localizado na área mais movimentada do centro comercial, a um quarteirão da Pedrosa & Boaventura Advogados Associados.
Era no Café Toledo, que à noite virava choperia, que os dois causídicos, plantados como qualquer comensal comum, num hábito que se repetia já por anos a fio, buscavam esquecer por alguns momentos os ossos do ofício e esgrimir seus conhecimentos não jurídicos.
Eis então a razão da repentina pergunta, um tanto quanto insólita para o despropósito as hora e para a correria de uma segunda-feira ensolarada.
“Afinal, caro Pedrosa, como você define alegoria?”
Prudente Pedrosa empertigou-se na cadeira, aprumou-se por trás dos óculos sem aro, e respondeu afetadamente enquanto aguardava o líquido estimulante esfriar um pouco, usando uma verborragia didática e acadêmica que mais se assemelhava a uma simples leitura de um dicionário.
“Alegoria é uma exposição de ideias através de uma narrativa onde se utilizam figuras de metáfora para dizer alguma coisa de forma indireta”.
“Bonito!” – retrucou Boaventura – “Mais bonito do que uma petição! Provavelmente também mais difícil de fazer!”
Pedrosa remexeu levemente as gordas ancas na cadeira, gesto que comumente fazia quando sabia ter um trunfo escondido na manga para decidir a seu favor uma questão delicada.
“Depende do ponto de vista” – declarou judiciosamente. “Nós, escritores” (e deu ênfase a um atributo que ele acreditava ter e sabia que Boaventura não tinha) “possuímos o dom de utilizar alegorias para contar histórias” – seguiu ele com desmesurado orgulho – “assim indiretamente o leitor vai tomando ciência de uma situação dentro de um contexto simulado” – concluiu ele, complicando ainda mais a explicação.
“Eu escrevi uma alegoria que trata do velho amor incompreendido, transformando uma intriga amorosa numa narrativa surrealista. Vou trazê-la amanhã  para que você possa ler”.
O gordo Pedrosa finalmente bebeu o seu café “espresso” quase de um gole só, no que foi imitado pelo magro Boaventura. Deram uns trocados para a garçonete sorridente e saíram do Café lado a lado, tal qual Laurel e Hardy, retornando para o escritório onde se defrontariam novamente com códigos, pareceres, preceitos, súmulas e outras questiúnculas que fazem parte do serviço.
                                                    -0-0-0-
“De repente, ele desceu do céu, rápido e assustador como uma ave de rapina, deixando no ar um rastro de maus fluidos e um cheiro insuspeito de enxofre.
Chegou sem que ninguém visse, como uma gota de chuva, como um grão de meteorito, sem se fazer notar, pois veio em forma de sombra, impalpável como um espírito e cheio, embora sem contornos.
Ele chegou, perverso e poderoso, traduzindo num esgar apavorante a sua intenção maldita.
Ele é assim, impiedoso e cruel, e quem já teve a má fortuna de com ele se cruzar só conseguiu depois se lamentar do seu infausto destino.
De nada valem os crucifixos elevados ao alto, os exorcismos gritados a plena voz ou as preces silenciosas. Para combatê-lo só mesmo uma  reforçada legião de arcanjos”.   

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018





NOVOCABULÁRIO INGLÊS
(Copyright MacMillan)

(ver tradução após o texto)

BOUNCEBACKABILIYY
If things are not going so well for you at the moment, reassure those around you not to give up hope: remind them of your BOUNCEBACKABILITY. You may have lost every game this season or just failed your exams, but success may be just around the corner.

“We have been beaten, but we will never be defeated… I for one, am looking forward to next season as we will prove that we have “BOUNCEBACKABILITY.
(The Holmesdale Online, 19th May 2005)

TRADUÇÃO

Se no momento as coisas não estão andando bem para você, faça as pessoas que estão à sua volta saber que você jamais desanima: lembre-os da sua “bouncebackability” (“to bounceback” é fazer como um cachorro que se sacode todo quando está incomodado com água do banho no pelo, ou seja, tem a habilidade de colocar “alguma coisa ruim pra fora”). Você pode ter perdido todas as partidas disputadas no torneio ou ser reprovado nos exames, mas o sucesso pode estar te espreitando numa esquina.
  
“Você pode ter sido vencido, mas não foi derrotado... eu, pelo menos, estou só esperando pela próxima temporada para provar que nós temos “bouncebackability”



terça-feira, 4 de dezembro de 2018







FIM DE CASO
(Augusto Pellegrini)

Se perguntares o que eu sinto, não minto
Dir-te-ei todos meus doridos ais
Uma coisa, porém, eu advirto – não consinto
Que faças uso mau desses meus ais, jamais

Se perguntares do que eu gosto, não digo
Farei segredo deste particular
E uma outra coisa eu advirto – e insisto
Que meus direitos deves sempre respeita
r

Se perguntares pra onde vou, não conto
Pois meus caminhos só a mim me cabe achar
E que uma coisa fique claro – e pronto!
Quem me seguir por certo irá se lamentar

Se perguntares sobre o meu passado
Eu fico surdo pra não responder
Pois gostaria de deixar de lado
Coisas que o tempo teima em reviver

Se perguntares o que eu penso do seu gesto
Eu vou dizer que pra mim tanto faz
Pois procedendo assim, com meu protesto
Eu finalmente sentirei a paz

Por fim, se perguntares por que me recuso
A entabular práticas de amor contigo
Eu só direi – cansei de ser intruso
Noites de amor não se faz com o inimigo

Novembro 2018


segunda-feira, 3 de dezembro de 2018






NOVOCABULÁRIO INGLÊS
(Copyright MacMillan)

BLAMESTORMING
Your project was a failure and has spoilt the department’s record of achievement. But just whose idea was it anyway, and why did things go wrong? Call a meeting to discuss it, and instead of brainstorming, why not try BLAMESTORMING – that way you can show that you had nothing to do with it!

“Back in the eighties end early nineties, everyone was talking about brainstorming, but more often than not what actually went on was “BLAMESTORMING” – people sitting in meetings, allegedly to share ideas but really saying … ‘Who made the mistake?’… in those meetings there’s a lot of finger-pointing, but not a lot of emphasis on the important issue: how to solve the problem?”.
(Business Week, 24th September 2004)

TRADUÇÃO

Seu projeto foi um fiasco e arruinou com as boas marcas conquistadas pelo departamento. Mas de quem foi a ideia e porque as coisas deram errado? Convoque uma reunião para discutir o assunto e ao invés de trocar ideias (brainstorming) por que não buscar os culpados (blamestorming) para mostrar que você não tem nada a ver com isso!

“Nos anos oitenta ou início dos anos noventa só se falava em “brainstorming”, mas o que de fato acontecia era um “blamestorming” – pessoas participando de reuniões supostamente para discutir ideias, mas na verdade para perguntar ... “De quem foi o erro?... com todos apontando o dedo uns para os outros sem atentar para o detalhe importante: como resolver o problema?”  





SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 08/09/2017
RÁDIO UNIVERSIDADE FM 106,9 Mhz
São Luís-MA

MACK AVENUE SUPER BAND

Mack Avenue Records é uma gravadora que foi fundada em 1999 por uma empresária de nome Gretchen Carhartt Valade, uma apreciadora do jazz e principal executiva da Carhartt, um império industrial americano na área de vestuário. A força do empreendimento propiciou à gravadora a contratação de diversos músicos de qualidade a o patrocínio do Detroit Jazz Festival, para o qual a empresa doou 15 milhões de dólares em 2006. O Sexta Jazz desta semana vai apresentar uma orquestra formada por músicos da gravadora que formaram uma orquestra chamada Mack Avenue Super Band para abrilhantar a edição do festival de 2013. Entre os músicos presentes destacam-se o extraordinário vibrafonista Gary Burton, especialmente convidado para o evento, os veteranos Carl Allen (bateria) e Kirk Whalum (saxofones e flauta) e o promissor Sean Jones (trompete e flugelhorn). No repertório, músicas de Chick Corea, Django Reinhardt, Dizzy Gillespie, John Lewis e dos músicos da gravadora.    

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini

                                                                                                                                     

sábado, 1 de dezembro de 2018





A LUXÚRIA
(Excerto)

Luxúria é uma coisa que gera margem a dúvidas.
Apesar de no dicionário ficar subentendido como “o supra-sumo da libertinagem”, isto é, sacanagem da grossa, e também como o “superlativo da natureza em viço” – e eu disse viço, não vício – e palavra não é mais usada na sua forma e dimensão real ou então já não se peca mais como antigamente.
Até o pecado anda perdendo a graça.
Antes era tudo proibido, tudo escondido, saboroso como a maçã do Jardim do Éden, mesmo com o risco iminente de que surgisse um vetusto senhor de barbas brancas e olhar iracundo, o dedo em riste e o cajado a brandir para a expulsão perene do pecador.
Na terra das novelas e da internet, porém, o pecado vai assumindo a sua forma eletrônica, e a sensualidade vai invadindo as nossas casas pelas frestas da porta e da janela, através de livros, revistas, jornais e vídeos, e aí a luxúria se descaracterizou, virou artigo de consumo e, sendo “prêt-à-porter”, perdeu aquela antiga imponência.
Já não se despem as gatotas com os olhos, pois elas já vêm despidas, já não se imagina o que uma freirinha teria de sobrenatural porque ela já é supernatural, já não se escondem segredos por debaixo das batinas franciscanas.
Até a palavra “luxúria” perdeu aquele grandiosismo, aquela magestosidade, aquele lirismo, aquela magia.
Mas a luxúria continua presente no desfile da escola de samba, no espartilho de madame Du Barry, no olhar de Casanova, no busto tridimensional das novas Sofia Lorens, em Baco com seus cachos de uva, no tapete persa, na odalisca e no perfume francês.
Luxúria não é uma mulher vulgar se fazendo de fácil e sim a maior das cortezãs fazendo o jogo do difícil para o amador apaixonado.
Luxúria não é a simples intimidade da alcova e sim a própria alcova transpirando desejos incontidos.
Luxúria é champanhe com cortinas de veludo vermelho ao fundo. E violinos ao luar.
Luxúria não é o “strip”.
Luxúria é o “tease”.