quinta-feira, 8 de março de 2018





A POLÍTICA E A COPA

A prática de esportes está tomando, notadamente nos últimos vinte anos, um aspecto mercantilista com o qual os seus idealizadores do século 19 não sonhavam.
Foi descoberto um filão de ouro inesgotável que, qual uma cornucópia repaginada, de onde não saem flores e frutas como concebeu a mitologia, mas dólares, ouro e euros em profusão, promovendo uma farta distribuição de riqueza para grandes empresas, clubes da elite mundial, atletas de diversas nacionalidades e toda uma gama de agregados compostos de agentes, coaches (no sentido empresarial da palavra), familiares espertos, dirigentes esportivos, procuradores e mafiosos de uma forma geral.
As ratazanas sempre correm para o lugar onde o queijo abunda.
Com tanto dinheiro e poder em jogo, é inevitável que políticos se juntassem com empresários e dirigentes esportivos para abocanharem o seu quinhão, quer capitalizando votos e simpatia sobre o evento, quer dando uma demonstração de poder ou ainda fazendo parte da organização a fim de participar de desvios milionários.
Esta situação foi vista com mais intensidade nas Copas da África do Sul (2010) e do Brasil (2014) onde a ocasião fez o ladrão, que aqui deixa de ser um substantivo simples para se tornar um nome coletivo.
Nestas duas ocasiões procurou-se de toda forma intensificar a bandalheira, com vendas de contratos de concessão para todos os tipos de transmissão, construção de estádios superfaturados  e negociatas entre dirigentes esportivos - inclusive os da Fifa - e empresas patrocinadoras.
A permissividade encontrada no Brasil e na África do Sul deve se repetir na Rússia, posto que a honestidade na condução dos negócios oficiais do país não parece ser o seu ponto forte.
A situação se repetindo por três vezes consecutivas depois de vinte edições realizadas deixa um ponto de interrogação sobre a ética em de que forma as coisas estão se processando em termos de corrupção, tendo como base o esporte.
Felizmente isto não está se estendendo dentro das quatro linhas do gramado, ou seja, resultados "encomendados" não têm sido o forte dessa corrupção, como também não se tem notado a interferência de um governo forte quando seu país sedia a competição.
Neste quesito, a história tem poucos e breves exemplos. Fala-se, embora sem provas que sejam realmente substanciais, que a Itália de Mussolini ganhou na marra a Copa de 1934, que a Inglaterra forçou a barra em 1966, que a Argentina mexeu com os pauzinhos para ganhar em 1978 e até que a Coréia do Sul arranjou alguns resultados em 2002 para sair da Copa numa condição honrosa.  
No primeiro caso, parece que a ameaça maior dizia respeito aos jogadores italianos, que temiam "ter a cabeça cortada" pelo ditador fascista caso não levantassem a Jules Rimet. Mas a "squadra azzurra" era realmente boa, tanto que repetiu a dose na França quatro anos depois.
No segundo caso, a polêmica se deu em função de um gol inglês onde a bola não teria entrado, mas nada indica que tenha havido alguma armação de bastidores para dar o título aos donos da casa.
No caso da Argentina, há evidências de que a ditadura de Jorge Rafael Videla pudesse ter corrompido os peruanos e aberto o caminho para a final, mas entre afirmações e negativas nada ficou efetivamente provado.
Finalmente, na Coréia do Sul, as arbitragens nos jogos contra Itália e Espanha favoreceram flagrantemente os anfitriões, mas isto é atribuído por alguns analistas como decorrência da pressão da torcida.
O fato é que todo tipo de armação - dentro e fora do campo - pode estar sendo orquestrado para a Copa deste ano, levando em conta que a comunidade internacional sempre foi muito desconfiada sobre o que se passa dentro da cabeça de Vladimir Putin e dos seus assessores diretos, tanto na área política, como econômica, como esportiva.
Putin vê a Copa de 2018 como uma possibilidade de aumentar poder, riqueza e aliados. Ao contrário da maioria dos líderes de um país, ele é também um praticante de esportes, e vê a supremacia de um país no campo esportivo como um fator importantíssimo de domínio cultural.
Mesmo que seja à base de doping.   
    

   

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