domingo, 22 de abril de 2018





COMO NASCEM AS CANÇÕES

(Parte 7)

(Artigo escrito para a página da Academia Poética Brasileira – https//www.facebook/com/academiapoetica/).


A continuação da Parte 6 fala especificamente da “Ópera do Amor em Tempo de Revolta”, com a transcrição das letras das músicas e narrativas, começando com o prólogo (declamado). Pense o leitor num  palco e numa encenação onde as palavras, os gestos e a parte musical falam mais alto do que o cenário:

Se toda gente soubesse
Das voltas que o mundo dá
Não faria tantas coisas
Para os outros, sem pensar
Saberia que seus atos
Serão pra História julgar

Se toda gente soubesse
Das voltas que o mundo teve
Saberia que essas lutas
De revolta justa ou greve
Tiveram lugar nas terras
De dominadores breves

Se toda a gente soubesse
Que a História sempre repete
Cuidaria mais, que é fácil
Já estar no fim do reinado
E que a estação de mudança
Poderá já ter chegado

Depois, a apresentação (cantado):

Esta história conta frases de amor
Conta fases de amor
Conta fatos da vida
Diz nos versos a dor
Do universo esquecido
Da existência sofrida
Do trabalhador

Esta é a história de uma parte do mundo
Onde o mundo é pequeno
E onde vive somente
Um oitavo da gente
Que lá dentro nasceu
Pois o resto morreu
E o restante não é

Mas a história de quem sofre e trabalha
E passa fome a migalhas
Também tem coração
Pois no peito balança
Tanto quanto o que alcança
Quem na vida não cansa
Quem tem sol, luxo e pão

Veja a história de quem morre criança
Ou fica adulto na infância
E não tem sol, luxo ou pão
No seu peito balança
Tanto quanto o que alcança
Quem da vida não cansa
Como o mestre Simão

Este é Simão, rei dos patrões
Aquele é João, seu empregado
Simão é rico, dono do mundo
João é forte e trabalha muito

Simão tem tudo, leva boa vida
Dinheiro em banco, foto em jornal
Seus interesses não modificam
O esquema nacional

Elisa é bela, tem preconceitos
Por homens pobres, por homens pretos
Os dois do mundo se mantêm distantes
São omissos atuantes

João tem braços e pouco dinheiro
Não tem sossego o ano inteiro
E a noite sonha com a Maria que não conhece
É como o dia de uma mudança que vai chegar...”


Nesta sequência muda a atmosfera e a cena, que segue com a canção “A Busca, a melodia composta por Renato Winkler. A canção retrata os anseios de João (cantado):

“A Busca”

Ah, esta eterna procura do que não se perdeu
A gente onde é que está?
Ah, esta sempre vontade se ser e de saber
Tudo o que é e tem seu valor
É busca da gente em si mesma
É busca no tempo e no espaço
É busca do amor que não veio
Com a esperança de um dia encontrar

Ah, a procura daquela nova dimensão
A dimensão da paz
De tudo o que se quis um dia
De tudo o que se fez um dia
Pra ter aquela Maria..”

Quando questionado pelos amigos, João explica os seus próprios questionamentos (cantado):

Se eu escuto é porque falam
Tenho que dizer que ouvi
Se eu vejo é porque fazem
Tenho que dizer que vi
Se esta voz não é só minha
Mas de muita gente aqui
Tenho que dizer no canto
Todo o grande desencanto

Mais adiante, João e os amigos comemoram o feriado – e a noite da véspera do feriado – com as suas diversões (cantado):

“O Dia Mais Lindo”

O dia mais lindo do pobre é o feriado
Ele pode descansar
Saiu com os amigos, dormiu de madrugada
Não tem que levantar
Esquece o relógio do ponto
Esquece o olhar do patrão
Esquece a sineta do almoço
Esquece a produção

Da porta do bar vê passeando na avenida
A gente bonita que tem alta posição
Vive imponente e na certa anda esquecida
Que os dois vão repousar no mesmo chão

O dia mais lindo do pobre é o feriado
Ele pode descansar
Ganhando no mole o seu dia miserável
Que a lei mandou pagar
Feriado de santo de igreja
Ou com desfile musical
Mas vem a danada certeza
De o dia se acabar

Aqui começa a introdução ao romance (declamado):

Se toda gente soubesse
Das voltas que o mundo dá
Saberia: o olhar, às vezes
Pode mais que a lei social
E que certas circunstâncias
Não cabe à gente criar

Se toda gente soubesse
Que o coração tem motivos
Pra bater mais forte ao peito
Quando, em acordo consigo
Bate outro peito fremente
Vibrando ao toque preciso

Se toda gente soubesse
Do amor que constrói o mundo
Veria que não há nada
Que o faça modificar
Tomara todos pudessem
Ser felizes, par a par

SEGUE

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