sexta-feira, 31 de julho de 2020





AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)

CAPÍTULO 6 - A EXPANSÃO MUNDIAL DO SWING
(continuação)

O swing surgiu nos Estados Unidos como uma nova mania musical quando o país começava a aparecer aos olhos do mundo, diante de uma Europa fragilizada por uma guerra mundial e às vésperas de outra conflagração ainda mais séria.
Muitos historiadores procuram estabelecer o momento preciso deste surgimento, o que leva a uma série de especulações e a nenhuma constatação, pois o fermento da nova música começou formatar o estilo de uma maneira gradual.
Boa parte dos historiadores sugere que o swing teve o seu batismo em 1928, quando o pianista e líder de banda Jelly Roll Morton gravou com os Red Hot Peppers as músicas “Georgia Swing” e “Kansas City Stomp”, ambas compostas por ele. A banda de Morton, porém, não possuía nem a sonoridade nem o lineup de uma verdadeira orquestra de swing (na época, o lineup definitivo ainda estava sendo experimentado pelo arranjador e saxofonista Don Redman).
Outros garantem que a pulsação e as notas policrômicas do swing nasceram em Kansas City com a orquestra de Bennie Moten ou com os Blue Devils comandados por Walter Page. Na verdade, o embrião do swing talvez morasse em Kansas City, mas foi apenas tornado público anos depois, com Count Basie, depois que o estilo já havia conquistado Nova York.
Muitos creditam a Duke Ellington a primazia de ter oficialmente lançado o swing pelo simples fato de ele ter utilizado a palavra em 1931, no título da música “It Don’t Mean A Thing (If It Ain’t Got That Swing)”. Todavia, quando isso aconteceu o swing já era profusamente interpretado por um sem número de orquestras, mesmo que em busca de uma forma final definitiva.
Uma série de gravações executadas pela orquestra dos irmãos Dorsey em 1934 levou muitos críticos a expressarem que ali teria efetivamente começado a era do swing, mas a orquestra era apenas mais uma entre aquelas que apresentavam o estilo nos ballrooms de Chicago e Nova York. Outros preferem comemorar a data atrelando-a a um memorável concerto realizado no Onyx Club de Nova York em 1936, denominado “Concert of Swing Music”, estrelado por Tommy Dorsey e Bob Crosby – ocasião em que a orquestra de Artie Shaw roubou a cena como convidada coadjuvante. No entanto, outros concertos memoráveis, estrelados por Benny Goodman, Chick Webb, Count Basie e outros tiveram a mesma importância antológica na execução do estilo.
Qualquer que seja a explicação, o fato é que o swing já se encontrava pronto no final da década de 1920 para representar o espírito americano tanto dentro dos Estados Unidos quanto na Europa, como um fino produto de exportação. Este também seria um bom landmark para servir de referência como início do swing.
A pronta aceitação do jazz pelo público europeu, tradicionalmente exigente em termos de música, foi uma clara demonstração da qualidade do novo gênero nascido na América. Afinal, eles já sentiam a necessidade de uma modernização dos padrões vigentes nos grandes centros do Velho Continente, e a novidade vinda da América parecia ser uma boa pedida
Se nos transportarmos para a Europa e retrocedermos para a segunda metade do século dezenove, iremos nos deparar com uma música popular já relativamente estagnada havia séculos, quer por falta de uma renovação que fosse consistente quer pela ausência de um novo gênero ou estilo.
A necessidade de renovação estava patente e o público musical europeu se mantinha à espera de propostas, num continente que, além de musicalmente carente, também se encontrava vulnerável dentro do contexto político, social e econômico, o que o tornava absolutamente suscetível a influências externas.
O século vinte iria inaugurar uma era de realismo explícito, e a Europa se encontrava sacudida por uma grave crise social e ideológica, da qual resultava um crescente inconformismo e a ascensão do socialismo, bem como a explosão de um sindicalismo revolucionário.
Em todos os grandes centros, notadamente na França e na Inglaterra, muitos artistas procuravam encontrar, a partir dos elementos que dispunham dentro da própria cultura local, alguma expressão artística inovadora que trouxesse um alento para as suas futuras perspectivas literárias, cênicas e musicais.
Mas o fim do século dezenove havia exposto aos olhos do mundo um problema cultural que os europeus denominaram de “crise da música”, trazido à tona pela chamada “saturação da música wagneriana”.
De acordo com os críticos, quando o compositor alemão Richard Wagner compôs “Tristão e Isolda” em 1859, ele chegou às últimas possibilidades do cromatismo romântico, e a sociedade europeia começou a questionar naquele final de século tanto o romantismo como escola quanto as emoções dele decorrentes como motivação para novas composições.
A música que vinha mantendo a tradição dos últimos tempos era considerada decadente, principalmente pelos mais jovens. No entanto, nem os compositores nem os intérpretes estavam conseguindo construir algo diferente em termos de harmonia e sonoridade que atendesse às necessidades dos novos tempos no que dizia respeito à popularização da música.
Quando durante o século vinte a música erudita se modificou, ela enveredou por um caminho oposto daquele que foi percorrido pelo jazz, indo em direção ao hermeticismo. Muito embora compositores como Claude Debussy, Maurice Ravel, Edward Elgar e Sergei Rachmaninof ainda tentassem manter a linha romântica, a chamada “música moderna” começou a usar frases dissonantes através dos “impressionistas românticos” (Béla Bartók, Igor Stravinsky, Charles Ives) mesmo mantendo as progressões harmônicas tradicionais. Outros, porém, como Dmitri Shostakovich, Sergei Prokofief, Paul Hindemith e Pierre Boulez expandiram seu erutidismo sem economizar as dissonâncias, e outros, ainda mais revolucionários, caso de Arnold Schöenberg, Anton Webern e Alban Berg assumiram o dodecafonismo até chegarem ao chamado “serialismo integral”.

Nenhum comentário: