quinta-feira, 30 de julho de 2020





O MEU CONDADO
(Augusto Pellegrini)

As ruas do meu condado
Têm calçamento de pedra
Em cujos espaços medra
Verde musgo alcatifado

O chão está preservado
Pela ausência de passantes
E quem aqui viveu antes
Não deixou qualquer legado

É uma cidade fantasma
Casas poucas, mal-cuidadas
Com paredes descascadas
Como um presépio sem alma

Das janelas pendem flores
Protegidas pelo tempo
Da ação do inclemente vento
Do sol e outros dissabores

Os homens que aqui viveram
Em tempos imemoriais
De muitos anos atrás
Não honraram seus herdeiros

Não deixaram coisa alguma
Móveis, qualquer utensílio
Passado de pai pra filho
Ou seja, herança nenhuma

A morada tem, de fato
A natureza como abrigo
Onde a escuridão amiga
Protege insetos e ratos

Mas no meio do vazio
Onde a solidão impera
Tudo é sempre primavera
E flores há, sem plantio

Silêncio é música ouvida
De sons ao sabor do vento
Que sopra a todo momento
Na paisagem combalida

Este é o meu condado
E dos meus antepassados
Que não tiveram o cuidado
De deixar qualquer legado

2018



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