O ENCONTRO
Augusto
Pellegrini
(excerto)
O
táxi está suando, e eu estou suando dentro dele. O carro é antigo, e o ar é
descondicionado.
O
tempo está parado, como uma fotografia.
Logo
agora, todos os sinais de trânsito ficam vermelhos e todos os motoristas de
fim-de-semana resolveram sair para dar a sua voltinha.
Logo
agora, todos os cachorros e todos os transeuntes cismam em cruzar vagarosamente
a rua bem na frente desta carcaça automotiva, como se nada mais existisse adiante
ou na retaguarda – “sempre alerta!” – e até os escoteiros cismam em acompanhar
todas as velhinhas ao longo de todas as avenidas – e eu disse ao longo, não transversalmente.
Pior
do que ser escoteiro é ter um pai escoteiro (devo ter ouvido isso em algum
lugar, pois é uma frase brilhante, e eu não sou brilhante assim).
Este
motorista palerma de bigode mal aparado não passa de dez quilômetros por hora
para não tocar o auto em cima dessa gente toda, incluindo o motociclista que
faz zigue-zague na frente do carro tentando achar uma saída e os insetos que se
escondem nas fendas do leito carroçável (detestável, esta expressão!).
Afinal,
no trânsito dos países em convulsão os tanques de guerra fazem isso com uma precisão
mórbida e ninguém reclama – rádio, jornais e noticiosos de televisão apenas
comentam à guisa de curiosidade.
Mas
contra os tanques existem os lança-chamas e para mim já basta o calor deste dia
e desta ardente espera.
O
relógio caminha apressado, e tudo indica que o programado encontro se transformou
numa angustiosa ausência ou em justificativas destituídas de romantismo.
E
vem o calor desta dúvida – valeu mesmo a pena apanhar este táxi?
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