sexta-feira, 8 de abril de 2022

 


VOLTEI

(Augusto Pellegrini) 

Voltei pra casa, depois de um longo tempo ausente
E em meu breve retorno eu encontrei tudo mudado
O lindo sobrado em que eu vivi com meus parentes
A mãe, o pai, o irmão, o avô e os agregados
Agora deu lugar a um prédio alto e inconsequente
Que para mim não tem o menor significado 

A casa ao lado, que abrigava uma frondosa hera
Foi transformada em uma prosaica lanchonete
E no lugar da cores de tantas primaveras
Há no local um grande painel de sorvete
Gelando a poesia ao cheiro forte de aloe vera
Selando a hipocrisia com pipoca doce e quente

O grande olmo que adornava a imensa sebe
Foi posto abaixo e deu lugar a um sinaleiro
E a escola que abrigava crianças alegres
Emudeceu, e agora é um mísero pardieiro
De trastes velhos e coisas que não mais servem
Mas que se pretende valha algum dinheiro
 

Voltei pra antiga casa, e não sei porque fiz isso
Sabendo que o tempo tudo muda e decompõe
Vou retornar pro meu passado de aura e viço
Em pensamento e sem outro compromisso
Vou conservar em minha memória o tempo bom
Da vida que era bela, calma e sem maiores riscos 

Voltei, sim, mas eu me vou sem o menor remorso
Sem falsas emoções e nem forçando um falso pranto
Queria ter voltado ao tempo ameno e outrora dócil
Onde a poesia amiga residia em cada canto
E a gente era feliz, sem fazer qualquer esforço
Sem falsas emoções, sem dor, sem desencantos 

Março de 2022

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