sexta-feira, 8 de abril de 2022

 


COMO NASCEM AS CANÇÕES
(Augusto Pellegrini)
 

(Parte 6) 

A partir de João Gilberto apareceram outros nomes de cantores e compositores, as gravações do novo estilo passaram a ser lançadas comercialmente e a nova tendência do mar-amor-luar começou a tomar conta do Rio e se espalhar pelo eixo musical Rio-São Paulo – embora João, baiano e antigo crooner de conjunto vocal executasse boa parte do seu trabalho explorando compositores e sambistas antigos e dando a eles uma roupagem toda particular.

Já no seu primeiro LP – “Chega De Saudade”, lançado em 1959 – João mesclou modernas composições de Jobim, Vinícius, Lyra e Bôscoli com velhas músicas de Caymmi, Marino Pinto, Zé da Zilda e Ary Barroso.     

Da safra nova de compositores que começou a conquistar o mercado, a dupla Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli era uma das mais profícuas, com músicas de intensa poesia, como “Rio” (“Rio, que mora no mar / Sorrio pro meu Rio que tem no seu mar / Lindas flores que nascem morenas / Em jardins de sol / Rio, serras de veludo / Sorrio pro meu Rio que sorri de tudo / Que é dourado quase todo dia / E alegre como a luz”), “O Barquinho” (“Dia de luz, festa de sol / E um barquinho a deslizar / No macio azul do mar / Tudo é verão e o amor se faz / Num barquinho pelo mar / Que desliza sem parar / Sem intenção, nossa canção / Vai saindo desse mar / E o sol beija o barco e luz / Dias tão azuis”) e “Você” (“Você, manhã de tudo meu / Você, que cedo entardeceu / Você, de quem a vida eu sou / E sei mas eu serei / Você, um beijo bom de sol / Você, em cada tarde vã / Virá sorrindo de manhã ...”).

Alguns bossanovistas bissextos como os irmãos Marcos e Paulo Sergio Valle também compuseram músicas cheias de poesia que a moçada cantava na praia e nos apartamentos de Ipanema, como “Samba De Verão” (“Você viu só que amor? / Nunca vi coisa assim / E passou, nem parou / Mas olhou só pra mim / Se voltar vou atrás / Vou seguir, vou falar / Vou dizer que o amor / Foi feitinho pra dar / Olha, é como o verão / Quente o coração / Salta de repente / Para ver a menina que vem...”), e Sergio Ricardo, que mais tarde também engrossaria a turma do protesto, trazendo um viés noturno e soturno para a bossa nova, mesmo falando de mar e amar, como em “Poema Azul” (“O mar beijando a areia / O céu, a lua cheia / Que cai no mar / Que abraça a areia / Que mostra ao céu e à lua cheia / Que prateia os cabelos do meu bem...”).

O ápice do romantismo bossanovista veio com “Garota De Ipanema”, de Antônio Carlos Jobim, então já um músico consolidado, e Vinicius de Moraes, um diplomata em desencanto (“Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça / É ela, menina, que vem e que passa / Num doce balanço, a caminho do mar / Moça do corpo dourado do sol de Ipanema / O seu balançado parece um poema /  É a coisa mais linda que eu já vi passar”) e com “Corcovado”, de Tom Jobim (“Um cantinho, um violão, esse amor, uma canção pra fazer feliz a quem se ama...), que impropriamente deu início ao jargão “um banquinho e um violão”, que fazia alusão às reuniões aos encontros dos músicos do novo sistema nos apartamentos da Zona Sul. 

 

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